Tecnologia

Como a tecnologia ajuda a evitar tragedias como a do Rio Grande do Sul


Como a tecnologia ajuda a evitar tragédias como a do Rio Grande do Sul


Renato Cirne, advogado, empreendedor e cofundador do Plantah

Para enfrentar os problemas ambientais é necessário usar a tecnologia dentro de uma perspectiva crítica

Com a industrialização continuada e crescente  há mais de dois séculos, o planeta tem enfrentado um aumento progressivo na emissão de gases de efeito estufa, acelerando as mudanças climáticas e agravando problemas ambientais globais, como o que atinge agora o Rio Grande do Sul, em uma catástrofe sem precedentes. Mas embora a tecnologia seja frequentemente vista como vilã do processo, ela também demonstra potencial para agir como uma força poderosa para o bem ambiental.

Vamos aos exemplos. A Tesla revolucionou a indústria automobilística com seus veículos elétricos de alto desempenho, enquanto empresas como a Beyond Meat estão transformando a indústria alimentícia ao oferecer alternativas sustentáveis à carne. A Nest Labs, com seus termostatos inteligentes, tem ajudado residências e empresas a reduzir significativamente o consumo de energia.

Essas cleantechs – startups que se dedicam à preservação do meio ambiente e à redução do impacto ambiental – são apenas exemplos de empresas que não só contribuem diretamente para a redução das emissões de carbono, mas também influenciam grandes setores da economia global a repensarem seus processos e produtos.

Biomarketing

Em outra frente, somando-se às cleantechs, empresas de tecnologia aplicada à comunicação influenciam a opinião pública sobre questões ambientais, catalisam ações globais e ajudam a mobilizar recursos.

É nesse contexto que surge o biomarketing. Esse conceito inovador transforma orçamentos aplicados à publicidade convencional em fundos que apoiam diretamente projetos sustentáveis. Esse é o princípio do Plantah, aplicativo lançado em abril durante o Web Summit, que promove um encontro qualificado entre pessoas, empresas e organizações voltadas a causas sustentáveis, por meio de um mix equilibrado entre rede social e captação de recursos, com acontece nos famosos fund raisers, como o Vakinha, por exemplo.

O Plantah, uma clean martech desenvolvida no Brasil, garante que  a interação em sua plataforma digital contribua diretamente para iniciativas com impacto tangível no mundo físico.

Dinheiro

Quando estudamos a história dessas empresas fica fácil entender o crescimento do investimento em empresas que adotam práticas sustentáveis – notável nos últimos anos. De acordo com o mais recente relatório da Global Sustainable Investment Alliance, o volume de ativos sob gestão em estratégias de investimento sustentável alcançou US$ 35,3 trilhões no início de 2020, representando um aumento de 15% em comparação com 2018.

Esse aumento reflete uma tendência global em que investidores, tanto institucionais quanto privados, estão cada vez mais comprometidos em alocar capital em empresas que demonstram responsabilidade ambiental, social e de governança, ou seja, que invistam em ESG. O surgimento de fundos de investimento focados em sustentabilidade é outro reflexo direto dessa tendência.

Menos riscos

Estas tendências são apoiadas por um crescente corpo de evidências que sugerem que investimentos em sustentabilidade podem oferecer riscos mais baixos e retornos comparáveis, se não superiores, aos investimentos tradicionais. Relatórios do Fórum Econômico Mundial têm indicado que as empresas que lideram em práticas de ESG tendem a ter melhor desempenho operacional e podem alcançar retornos mais altos sobre seus investimentos.

Paralelamente, governos ao redor do mundo fortalecem cada vez mais seus compromissos com políticas de sustentabilidade, o que tem estimulado o desenvolvimento de novos fundos de investimento focados em projetos de energia limpa, agricultura sustentável e conservação de recursos naturais.

Essas iniciativas refletem um entendimento global crescente de que o desenvolvimento econômico não precisa estar em desacordo com a saúde ambiental. Ao contrário, a integração de objetivos sustentáveis nas estratégias de investimento é agora vista como um imperativo para garantir a resiliência econômica e ambiental no longo prazo. A continuidade desse movimento depende não só da disponibilidade de capital, mas também da criação de um quadro regulatório que suporte e promova práticas de investimento responsáveis e orientadas para o futuro sustentável do planeta.

ODSs

Esse conjunto de iniciativas, aliado ao desenvolvimento e à adoção generalizada de tecnologias limpas e de práticas inovadoras de marketing, são também essenciais para que possamos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pelas Nações Unidas. Contribuem para a proteção ambiental e impulsionam a economia abrindo novos mercados e criando oportunidades de emprego.

Portanto, enquanto avançamos na exploração do potencial da tecnologia para resolver problemas ambientais, é vital manter uma perspectiva crítica. A tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas um catalisador de mudança, capaz de enfrentar grandes desafios ofertando soluções sustentáveis que beneficiam tanto a sociedade quanto o meio ambiente.

O futuro que buscamos depende não apenas da inovação tecnológica, mas de nossa capacidade de aplicar essas inovações de maneira que alinhe progresso econômico com responsabilidade ambiental e social. Se não queremos ver outras tragédias como as que assolam o Rio Grande do Sul, o Texas (EUA), o Quênia e tantos outros lugares do mundo, esse futuro precisa ser sustentável.