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Foodtech prevê faturamento de R$ 25 milhões com alimentos naturais para pets

Com investimento próprio, foodtech prevê faturamento de R$ 25 milhões com alimentos naturais para pets

A startup, que nasceu na pandemia e cresce mais de 10% ao mês em modo bootstrapping, com taxa mensal acima de 90% de fidelização, se prepara para expansão nacional e presença massiva como player do setor

Um faturamento de R$25 milhões em 2025 com investimento próprio, fruto de um plano robusto de expansão que será colocado em prática a partir deste segundo semestre de 2024. Essa é a expectativa dos paulistanos Tiago Tresca e Diego Tresca, sócios-fundadores da A Quinta , foodtech do segmento de “ Human Grade ”, alimentos apropriados para consumo humano. No caso da startup, de produtos naturais que traz no slogan “Tão natural que até você pode comer”. Em 2023, fecharam o ano com um faturamento de R$2,2 milhões, e a previsão é estar entre R$5 milhões e R$10 milhões ao final de 2024.

Nascida na pandemia, em 2020, A Quinta teve uma trajetória atípica, o que fez os sócios mudarem a direção do “leme” no meio do caminho. Naquele ano, levantaram uma rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em R$2,5 milhões, e possibilitou o lançamento ao mercado em 2021. Já em 2022, conhecido como o “inverno das startups”, o cenário era de retração nos investimentos de venture capital no Brasil e no mundo. Em uma tentativa de levantar sua seed round , a startup falhou.

Considerando o aquecimento do mercado de Pet Food no Brasil (que passou de 12% para 25% no comércio online*, depois do início da pandemia), conta Tiago, o caminho era “seguir ou seguir” e bancar o negócio. A Quinta oficialmente entrou no mercado em formato bootstrapping . No último ano, vem crescendo de 10% a 15% ao mês e com um churn mensal abaixo de 10% no modelo D2C, o equivalente a mais de 90% em recompra pelos clientes.  (*Abinpet: Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação).

A sacada para serem percebidos no mercado foi resolver um problema: a logística. “Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato congelado dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está pronto, para esse modelo devido à sua ineficiência logística. Petshops não querem receber esse produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali, estava nossa oportunidade”, conta Tiago.

“Resolvemos um problema operacional característico do Brasil e, também, incentivamos uma mudança de comportamento do consumidor. Até então, a alimentação natural era rotulada como de qualidade superior, porém pouco prática. Eliminamos essa “barreira” à medida que criamos uma tecnologia que possibilitasse que esse produto natural chegasse pronto para o consumo. A forma de envasamento e a apresentação desse produto ao mercado são inovação nossa. Esse ineditismo vem chamando atenção, inclusive, de empresas de fora do Brasil, que já estão se questionando em tirar o congelado, visando uma proposta de maior valor para o cliente final”, completa.

Pontos de venda e assinaturas

Em 2021, o investimento em uma tecnologia de envasamento em sachês permitiu tomar os 50 primeiros pontos de vendas em petshops, com a garantia que faltava: validade de um ano e sem necessidade de refrigeração (quando abertos, 72 horas na geladeira). Junto a isso, lançaram os planos de assinaturas. O boom não demorou para acontecer. Passou de 10 para 140 assinaturas, entre 2021 e 2022.

Em 2023, a chegada, como board of advisor , de Michel Mellis (ex-diretor de Transformação Global Unilever), que entra numa avaliação de R$10 milhões, possibilitou a aceleração das assinaturas. Ao final daquele ano, eram 500. Hoje são 680, com previsão de 1.500 até o final do ano. Já os pontos de vendas, somam atuais 500.

Todo mês somos lucrativos. Em menos de dois anos de operação, crescemos dois dígitos ao mês, com taxa de retenção acima de 90%. Isso indica que acertamos no produto. Hoje, não estamos necessariamente procurando abrir capital, a não ser que surja uma oportunidade de investimento relevante”, frisa Tiago, que não descarta uma negociação futura com um fundo de investimento desde que, segundo ele, pague bem .

Quem são eles

Diego (esquerda) e Tiago Tresca.

Tiago Tresca é um empreendedor em série. Nascido em São Paulo, mudou-se com a família para Portugal aos quatro anos de idade. Um pouco antes da pandemia, veio ao Brasil de férias e decidiu ficar. Aos 30 anos (hoje com 33), já respondia como cofundador de uma software house , que fornecia o serviço de tech founder para startups early stage pelo mundo ( outdarelab ) e, também, de um grupo de sete restaurantes de alimentação natural – o Natural Crave , ambos vendidos para investidores estrangeiros. Também foi cocriador da marca de snacks naturais, IncriBel! , na qual é sócio e conselheiro. A marca opera nas principais redes de Portugal (Continente, Auchan, Pingo Doce e Celeiro) e se prepara para a internacionalização.

No Brasil, une-se ao meio-irmão e administrador de empresas, Diego Tresca (46), que traçava uma carreira corporativa em uma grande empresa do segmento de corrida, estando à frente do planejamento de eventos, inclusive nos desenhos dos percursos e da arena das provas. O background de Tiago com alimentação natural, associado ao impulso do setor pet em 2020, norteou os dois para uma sociedade, dando origem à “ A Quinta ”, fazendo referência às propriedades rurais portuguesas.

O modelo de negócios foi estruturado seguindo a tendência mundial de substituição dos industrializados pelas comidas naturais na alimentação pet. Ensaios clínicos mundiais sugerem que 74,7% das doenças comuns em cães e 63% em gatos podem ser eliminadas sem intervenção médica, sendo a mudança na alimentação um dos fatores determinantes. Outros estudos sugerem que dietas industrializadas também sejam responsáveis por um número crescente de animais que sofrem de câncer, artrite, obesidade, doenças dentárias e doenças cardíacas. E, ainda, quem cães alimentados com comida caseira vivem, em média, três anos a mais.

Mirando no público AB, com assinatura mensal a partir de R$95, ticket médio de R$450, e o pacote de 300g vendido avulso a R$24,50, a linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dietas voltadas para cães adultos e idosos. Três delas são dietas de manutenção (Risoto suíno com abóbora, Menu das Estações e Picadinho de Frango com Cúrcuma). Já as outras, dietas dirigidas para necessidades especiais, a exemplo de cães com restrições alimentares ou portadores de doenças.

Os ingredientes vêm principalmente de pequenos produtores que vivem no entorno da fábrica, que funciona no interior de São Paulo. De lá, Diego (COO) coordena a equipe de processamento, envasamento e embalagem, comandando todo o fluxo até os assinantes e os PDVs. Do escritório de São Paulo, Tiago (CEO) fica mais à frente da gestão e das negociações com o mercado.

Junto a eles estão Fernanda Lenzi, Tina Tresca, Fernando Martins, e Pedro Simão, sócios minoritários responsáveis pelas áreas de fidelização de clientes, vendas, distribuição e tecnologia, e mais 15 colaboradores para as áreas de logística, marketing, design, merchandising e promoção, além de veterinários e nutricionistas.

Plano de expansão

De acordo com os sócios, a previsão é triplicar o time em um ano. A meta faz parte do plano robusto que será colocado em prática a partir do segundo semestre para alcançar os R$25 milhões de faturamento em 2025. Isso inclui uma participação mais agressiva no mercado, com o crescimento de portfólio e a expansão para outros estados fora de São Paulo, o que acontece até então organicamente, além de um investimento arrojado em inteligência artificial para escalonar o serviço de suporte veterinário e nutricional ao cliente, visando a transição dos industrializados para os produtos naturais.

Diego Tresca e Tiago Tresca com Fernanda Lenzi e Fernando Martins

Informações complementares: dados do setor pet em 2024: avaliado em €6.29bn, com expectativa de cres cimento anual de 7,63% até 2028 ( fr.statista ).