Ciência e Meio AmbienteInteligência Artificial

O papel da inteligência artificial na preservação do meio ambiente

O papel da inteligência artificial na preservação do meio ambiente

Biólogo e professor Paulo Jubilut explica como a tecnologia está revolucionando o monitoramento e a conservação dos ecossistemas

Se em 1992 a discussão sobre a conservação ambiental já era relevante, hoje ela se torna extremamente urgente. Nos anos 90, segundo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento da Amazônia atingiu níveis alarmantes, com um pico em 1995, quando aproximadamente 29.059 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos.

Em uma perspectiva mais recente, dados do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) indicam que o país perdeu 16.557 km2 de cobertura de vegetação nativa em todos os seus biomas em 2021. Em relação ao ano anterior, trata-se de um aumento de 20%. A expansão da agricultura, pecuária e grandes projetos de infraestrutura continuam sendo os principais impulsionadores da destruição ambiental.

Diante disso, a inclusão de tecnologias inovadoras como a Inteligência Artificial (IA) em processos de preservação e monitoramento ambiental se tornou alvo de significativos investimentos. Por meio de soluções inovadoras, a IA oferece suporte para combater desafios como o desmatamento, a caça ilegal, a pesca predatória e as mudanças climáticas.

De acordo com o biólogo Paulo Jubilut, professor do Aprova Total, a IA pode ser aplicada em diversas frentes para monitorar e preservar os biomas brasileiros. Uma das suas aplicações mais impactantes é na análise de imagens de satélite em tempo real, permitindo detectar atividades ilegais como desmatamento, caça ilegal e pesca predatória.

“Os algoritmos de inteligência artificial podem ser treinados para monitorar de forma contínua as imagens de satélite e alertar as autoridades praticamente em tempo real sobre atividades suspeitas”, explica Jubilut.

Além disso, a tecnologia pode ser empregada no monitoramento da fauna e da flora das áreas protegidas, contribuindo para a identificação de espécies ameaçadas e áreas que necessitam de restauração. Por meio da análise de grandes conjuntos de dados de imagens e sons, os algoritmos podem identificar padrões comportamentais e de habitat.

Um exemplo notável é o caso das baleias-jubarte na Bahia, onde a IA é utilizada para evitar colisões entre baleias e embarcações, além de contribuir para descobertas únicas sobre a distribuição desses animais.

Na mesma linha, existe um projeto desenvolvido pelo Instituto Imazon, chamado PrevisIA, que monitora a abertura de estradas dentro da Amazônia Legal, para localizar possíveis focos de garimpo e extração ilegal de madeira.

A IA também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de soluções para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “A inteligência artificial pode analisar grandes conjuntos de dados e identificar áreas prioritárias para reflorestamento, fornece recomendações na agricultura e otimizar a gestão de recursos hídricos”, destaca Jubilut.

A startup americana Pano AI exemplifica o potencial da inteligência artificial no monitoramento de desastres ambientais. A empresa criou um sistema impulsionado por IA capaz de identificar ameaças, confirmar incêndios, determinar a localização exata e fornecer informações em tempo real para equipes de resgate, agilizando as operações de combate ao fogo.

No que diz respeito à gestão de áreas protegidas, a IA pode auxiliar no planejamento e otimização, considerando dados sobre biodiversidade, clima e outros fatores. “Com base nos dados coletados, os algoritmos podem criar modelos preditivos que estimam como os ecossistemas podem responder a diferentes cenários climáticos, auxiliando na tomada de decisões informadas”, enfatiza Jubilut.

Apesar dos benefícios, a implementação em larga escala de sistemas de monitoramento e vigilância ambiental com IA no Brasil enfrenta desafios como a falta de infraestrutura em regiões remotas e questões relacionadas à proteção de dados e privacidade. No entanto, as oportunidades oferecidas por esses sistemas são vastas e têm o potencial de gerar impactos positivos na conservação dos biomas do Brasil.

Projetos ambientais que utilizam IA

Apesar de estar se popularizando, a amplitude de utilidades do uso da Inteligência Artificial ainda é pouco difundida. Segundo uma pesquisa da CX Trends da Zendesk, apenas 28% das empresas brasileiras utilizam a IA em suas operações, enquanto 50% planejam adotar a tecnologia nos próximos anos.

No entanto, no setor ambiental, já existem diversas iniciativas públicas e privadas que estão integrando a tecnologia em seus processos. O professor Paulo Jubilut montou uma lista de projetos para conhecer:

PrevisIA (Instituto Imazon): Um sistema de monitoramento que utiliza IA para detectar e prever a abertura de estradas na Amazônia Legal, ajudando a combater o desmatamento ilegal.

Pano AI: Uma startup que desenvolveu um sistema baseado em IA para identificar incêndios florestais em tempo real, auxiliando equipes de resgate e conservação ambiental.

Wildbook: Utiliza IA para identificar animais individuais por meio de padrões únicos em suas características físicas, ajudando na conservação de espécies ameaçadas.

Google Earth Engine: Plataforma que utiliza IA para analisar imagens de satélite e monitorar mudanças ambientais, como desmatamento, urbanização e mudanças climáticas.

Smart Parks: Utiliza IA para monitorar e proteger parques naturais e reservas de vida selvagem, detectando atividades ilegais, como caça furtiva e desmatamento.

eBird: Uma plataforma que coleta observações de aves de todo o mundo e utiliza IA para analisar os dados, identificar padrões de migração e ajudar na conservação das aves e de seus habitats.

ConservationFIT: Utiliza IA para identificar e rastrear animais selvagens por meio de imagens capturadas por câmeras automáticas, ajudando na conservação de espécies ameaçadas.

OceanMind: Usa IA para analisar dados de satélite e monitorar a pesca ilegal em áreas marinhas protegidas, contribuindo para a preservação dos oceanos e da vida marinha.

Coral Vita: Utiliza IA para monitorar e restaurar recifes de coral danificados, identificando áreas prioritárias para intervenção e otimizando os esforços de restauração.

Global Forest Watch: Utiliza IA para analisar imagens de satélite e monitorar o desmatamento em tempo real em todo o mundo, fornecendo informações para a tomada de decisões em políticas de conservação florestal.