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Desempregados pelo ChatGPT estão buscando recomeçar suas carreiras através de trabalhos manuais

Desempregados pelo ChatGPT estão buscando recomeçar suas carreiras através de trabalhos manuais

Nos Estados Unidos, profissionais substituídos por chatbots estão tentando escapar de áreas de trabalho ameaçadas pela onda de inteligência artificial.

Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita importância.

No entanto, depois de ler artigos sobre como utilizar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack da startup onde trabalhava, ela percebeu que suas tarefas diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. Lipkin descobriu que seus ex-chefes consideravam o uso do ChatGPT mais barato do que pagar um redator.

Ela sentiu que suas preocupações sobre ser substituída pela inteligência artificial (IA) se tornaram realidade.

Embora a inteligência artificial tenha avançado rapidamente em qualidade no último ano, gerando chatbots capazes de manter conversas fluentes, escrever músicas e produzir código de computador, alguns profissionais já estão sentindo os impactos.

Especialistas afirmam que, apesar de a IA avançada não igualar as habilidades de escrita humana, muitas empresas estão priorizando a redução de custos em detrimento da qualidade. Trabalhadores que produzem conteúdo de marketing e mídia social são os primeiros a serem substituídos por ferramentas como chatbots.

A falta de voz, estilo e respostas imprecisas, sem sentido ou tendenciosas, são algumas das deficiências dos chatbots em comparação com os humanos.

Embora a automação e os algoritmos tenham sido parte do mundo do trabalho há décadas, a atual onda de inteligência artificial gerativa, que utiliza algoritmos complexos treinados com grandes quantidades de palavras e imagens da internet, tem o potencial de afetar os empregos de alto nível.

A tecnologia é capaz de produzir textos que soam humanos, colocando em risco os empregos de conhecimento bem remunerados. O temor é que empregos criativos e de alto salário, que exigem maior formação educacional, estejam direcionados para a automação.

Apesar das previsões de que a IA poderá automatizar até 18% dos empregos mundiais, com maior risco para trabalhadores de escritório, como advogados, em comparação com aqueles em profissões como construção ou manutenção, ainda é cedo para determinar o impacto da IA na força de trabalho.

Algumas ocupações, como redação publicitária e tradução, são mais facilmente substituíveis por chatbots, enquanto análises jurídicas de alto nível, escrita criativa e arte ainda superam a IA em termos de qualidade.

Alguns profissionais que foram substituídos por chatbots já enfrentaram dificuldades.

Empresas que adotaram a IA para escrever artigos, por exemplo, tiveram resultados cheios de erros. Além disso, a substituição de pessoas por chatbots em linhas de ajuda levou a conselhos insensíveis e prejudiciais, resultando em prejuízos para as empresas.

Os chatbots podem cometer erros caros, e as empresas que adotam o ChatGPT em suas operações estão pulando etapas importantes.

Ao prever a palavra mais provável em uma frase, os chatbots produzem conteúdo mediano por padrão, o que leva as empresas a fazerem uma escolha difícil entre qualidade e custo.

Olivia Lipkin, a redatora substituída pelo ChatGPT, está repensando sua carreira no escritório.

Inicialmente, ela entrou no campo do marketing de conteúdo para sustentar-se enquanto seguia sua própria escrita criativa. No entanto, ela percebeu que o trabalho a exauria e dificultava escrever por conta própria.

Agora, ela decidiu trabalhar como passeadora de cães, afastando-se do mundo do escritório. Lipkin acredita que as pessoas estão buscando a opção mais barata, que não é uma pessoa, mas sim um robô.

Eric Fein, proprietário de um negócio de redação de conteúdo por uma década, enfrentou uma situação semelhante.

Ele cobrava US$60 por hora e tinha 10 contratos contínuos que representavam metade de sua renda anual.

No entanto, em março, seu maior cliente informou que não precisaria mais de seus serviços, pois adotaria o ChatGPT.

Um por um, os outros nove contratos foram cancelados pelos mesmos motivos. Sua pequena empresa quase foi à falência da noite para o dia.

Embora Fein tenha conseguido ser recontratado por um de seus clientes insatisfeito com o trabalho do ChatGPT, isso não é suficiente para sustentar sua família.

Com pouco mais de seis meses de reservas financeiras restantes, ele decidiu buscar um emprego que não possa ser feito pela IA.

Ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado e planeja se tornar um encanador no próximo ano.

Fein acredita que essas profissões são mais seguras no futuro.

A substituição de trabalhadores por chatbots também teve consequências negativas para algumas empresas.

O uso da IA para escrever artigos no site de notícias de tecnologia CNET resultou em conteúdo cheio de erros.

Um advogado que confiou no ChatGPT para redigir uma petição legal inventou precedentes fictícios.

A National Eating Disorders Association, que substituiu pessoas por um chatbot em sua linha de ajuda, suspendeu o uso da tecnologia após receber conselhos insensíveis e prejudiciais.

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, alerta que os chatbots podem produzir conteúdo de qualidade questionável.

Ela questiona se uma imitação é suficiente e se devemos abaixar o padrão de qualidade apenas para aumentar os lucros dos proprietários e acionistas das empresas.

Apesar das incertezas e desafios, os primeiros desempregados causados pelo ChatGPT estão buscando alternativas e recomeços em trabalhos manuais, que são menos suscetíveis à automação.

Embora a IA possa trazer eficiência e redução de custos, a substituição completa de trabalhadores por chatbots ainda é um cenário distante.

O futuro do trabalho depende de como as empresas equilibram a automação com as habilidades humanas únicas.

Embora a inteligência artificial e os chatbots estejam se tornando mais sofisticados, eles ainda têm limitações na área da criatividade, originalidade e compreensão contextual.

Trabalhos que exigem essas habilidades continuam sendo mais adequados para os seres humanos.

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia, destaca que, embora empregos de nível inicial estejam em risco, trabalhos que envolvem análises jurídicas avançadas, escrita criativa ou arte são menos suscetíveis à substituição pela IA.

Os seres humanos ainda superam a inteligência artificial nessas áreas, tornando-as mais resilientes às ameaças de automação.

Enquanto isso, especialistas argumentam que as empresas que adotam a IA devem ter cautela e considerar o equilíbrio entre qualidade e custo.

Os chatbots podem gerar resultados médios por padrão, e os erros podem ser caros tanto em termos financeiros quanto em termos de reputação.

Portanto, é importante que as empresas não pulem etapas e garantam que a tecnologia seja utilizada de maneira adequada e responsável.

À medida que os trabalhadores afetados pela substituição do ChatGPT buscam recomeçar suas carreiras com trabalhos manuais, fica claro que a automação traz desafios e incertezas.

No entanto, também é importante lembrar que a tecnologia pode ser uma ferramenta auxiliar para acelerar certas tarefas, permitindo que os seres humanos se concentrem em atividades mais complexas e significativas.

Embora os avanços na IA possam levar à reorganização da força de trabalho e à substituição de certos empregos, é crucial encontrar um equilíbrio entre o uso da tecnologia e a preservação das habilidades e talentos humanos.

À medida que a sociedade avança nessa era de automação, é necessário explorar novas oportunidades, adaptar-se às mudanças e buscar constantemente aprimoramento profissional para se manter relevante no mercado de trabalho em constante evolução.