Carreira

Evento destaca lacunas e oportunidades do programa Jovem Aprendiz para abrir portas no mercado de trabalho para os mais vulneraveis


Evento destaca lacunas e oportunidades do programa Jovem Aprendiz para abrir portas no mercado de trabalho para os mais vulneráveis


  • Encontro, realizado pelo Juventudes Potentes nesta quarta-feira (29/05), lançou e debateu o estudo inédito “Percepções e expectativas do jovem-potência sobre a Lei da Aprendizagem”

  • Evento reuniu especialistas e autoridades, como secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo, diretoria de RH da EY e da Reckitt, entre outros

  • Pesquisa mostrou que, apesar de 60,4% de jovens de 15 a 24 anos terem interesse em ser jovem-aprendizes, apenas 1,5% nessa faixa etária trabalham e 5,1% já trabalharam a partir dessa modalidade de contratação


São Paulo, 29 de maio de 2024 –

O programa

Jovem Aprendiz

, que tem por objetivo viabilizar a inserção no mercado de trabalho,

não está abrindo portas para os mais vulneráveis

. Essa foi a principal conclusão do evento do Juventudes Potentes, realizado nesta quarta-feira (29) em São Paulo, para lançar o estudo inédito





Percepções e expectativas do jovem-potência sobre a Lei da Aprendizagem”



.

A

gerente-geral do Juventudes Potentes, Nayara Bazzoli,

reforçou o papel dos dados para contribuir com ações intersetoriais para garantir inclusão produtiva para mais jovens.

“A nossa missão é incluir produtivamente 100 mil jovens potência em colaboração até 2030. Somos um grande articulador desse ecossistema. Temos hoje 36 mil jovens impactados desde dezembro de 2023 e o marco até 2030 é 100 mil. Essa pesquisa faz parte da nossa missão, dos nossos pilares, a gestão do conhecimento, para trabalhar baseado em fatos, em dados, e trazer um argumento para construir uma estratégia”.

Segundo a

analista de dados e monitoramento do Juventudes Potentes, Carla Francischette

, os dados revelam as lacunas de uso do programa para promover a inclusão produtiva.

“Esse programa, que deveria ser uma porta de entrada [para o mercado de trabalho], não está sendo uma porta de entrada para quem mais precisa. Entendemos que essa lei é uma das grandes oportunidades de formação e inserção [produtiva] dos jovens. A lei de aprendizagem, pelas suas condicionalidades, ajuda a reduzir o abandono escolar, principalmente nos jovens que estão no ensino médio”.

O estudo do Juventudes Potentes, iniciativa articulada pela United Way Brasil, foi realizado em parceria com a Lab & Tal Consultoria, ouviu 600 jovens entre 15 e 29 anos das regiões sul e leste da cidade de São Paulo para captar e compreender as percepções, visões e expectativas dos chamados jovens-potência sobre os programas de aprendizagem profissional.

Jovens-potência são considerados aqueles de 15 a 29 anos

que vivem em regiões periféricas e enfrentam um contexto de desigualdades e racismo sistêmico, o que dificulta o acesso às oportunidades formais de trabalho e de estudo, colocando-os em situação de vulnerabilidade social.

A pesquisa mostrou que apesar de

60,4% de jovens de 15 a 24 anos terem interesse em ser jovem-aprendizes

, apenas

1,5% nessa faixa etária trabalham e 5,1% já trabalharam

a partir dessa modalidade de contratação. O estudo revelou que

74,2% dos respondentes consideram que


o programa jovem aprendiz


é um caminho para o primeiro emprego

que pode interessar e atrair os jovens das periferias. No entanto, tais

vagas não alcançam esses jovens

, o que poderia acontecer, segundo os pesquisados, a partir de melhor divulgação das oportunidades, parcerias entre escolas e organizações formadoras, ampliando as vagas em empresas próximas das periferias e se as empresas fizerem um processo seletivo menos exigente.

Para

Gabriella Bighetti, diretora executiva na United Way Brasil

, o estudo tende a contribuir com melhorias para fortalecer as contratações de jovens-aprendizes.

“A pergunta que ficou rondando e que a gente vai debatendo no colaborativo é em que medida a lei da aprendizagem funciona e precisa ser aperfeiçoada para a inclusão formativa do jovem-potência”.


Patrícia Fechio, diretora de Recursos Humanos na EY

, ressaltou o valor do programa Jovem Aprendiz para as juventudes e, também, para as corporações.

“De fato essa é uma boa oportunidade para o jovem, mas talvez uma oportunidade ainda maior para as empresas que contratam esses jovens, de evoluírem com eles”.


Mariana Jardim

, de 21 anos, passou pela experiência de jovem-aprendiz em duas oportunidades e, hoje, atua como analista de tecnologia e operações no Santander. Para ela, a modalidade da aprendizagem foi fundamental para o desenvolvimento profissional.

“O programa de aprendizagem me preparou para ser uma estagiária melhor e agora eu sou uma analista por conta de todos os aprendizados que eu tive”

. No entanto, ela aponta alguns gargalos nesse processo, que identifica como necessidades de aperfeiçoamento do programa nas certificadoras, considerando as duas experiências que teve nessa modalidade de contratação, em 2019 e em 2022.

“Eu tive a oportunidade de passar duas vezes pelo programa. Uma coisa que me incomodou é que o mesmo conteúdo foi aplicado quando fui aprendiz novamente. O mercado se atualiza todos os dias, a gente passou por uma pandemia e o mundo de 2019 ficou para trás. O treinamento tem que ser aperfeiçoado diariamente e atualizado. Os aprendizes também merecem ter uma introdução qualificada”

, avalia. Além disso, ela aponta a necessidade de as vagas serem divulgadas nas escolas, em parcerias com empresas, organizações do terceiro setor e certificadoras.


Políticas públicas

O programa de Jovem Aprendiz está previsto a partir da Lei do Aprendiz, nº 10.097/2000, que define que a contratação pode ser feita para aqueles entre 14 e 24 anos, que estejam cursando o ensino fundamental ou médio, ou já tenham concluído. A

coordenadora de inclusão produtiva e novos negócios da ONG Despertar, Tais Alemar

, ressaltou durante o encontro a relevância de políticas públicas nesse sentido.

“Fortalecer uma política pública pode ser mais colaborativo e pode trazer uma ampliação para a gente chegar aonde a gente quer como sociedade também.”

A

diretora de RH da Reckitt e membro do conselho consultivo da UWB, Flávia Lisboa Porto

, reforçou.

“As políticas públicas são importantes para não abrirmos mão de um direito em detrimento de outro. O cargo que você chega não é o sucesso. Sucesso é quando eu não for a única. Quando outras pessoas chegarem comigo e for normalizado o acesso pela educação”.

Para o

secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo, Armando Júnior

, as oportunidades para as juventudes são uma via de mão dupla. “

É uma oportunidade para o poder público e o poder privado unirem esforços para dar acesso ao mercado de trabalho para essa juventude. O percentual obrigatório [pela lei do Aprendiz] não é cumprido pela maioria das empresas e a fiscalização não acontece da forma como deveria acontecer.


O grande problema hoje de inserção no mercado de trabalho é que muitas empresas têm que qualificar a pessoa que não está qualificada. Para resolver isso, a gente quer já qualificar o jovem, remunerá-lo e depois transferi-lo para a empresa”.


Empresas

No encontro, os participantes reforçaram, ainda, o papel das corporações para atrair e reter os talentos de jovens-potências, como destacou

Tatiane Dias, analista de recrutamento e seleção da EY

.

“Se a gente consulta as mesmas fontes de recrutamento, a gente vai chegar nos mesmos candidatos, e não nos candidatos que realmente precisam dos programas de aprendizagem”.

Além disso, ela reforçou o preparo interno das empresas para contratar e reter esses profissionais.

“É importante uma sensibilização e alinhamento do processo do programa antes da vaga ser aberta. É uma construção que tem a contribuição dos jovens, da empresa e, também, das instituições qualificadores, trazendo a questão de contexto social”.


Flávia Porto

complementou.

“É importante reconhecermos os diferentes marcadores sociais para além da diversidade. Quando a gente fala em ter uma empresa diversa, não é só contratar, mas também incluir e desenvolver o ambiente para a inclusão das pessoas. Precisamos trabalhar o viés do desenvolvimento não só pela ótica da carência, mas principalmente pela ótica da potência

”.



Sobre o Juventudes Potentes

O Juventudes Potentes integra o movimento internacional Global Opportunity Youth Network (GOYN), uma aliança formada por jovens, empresas, governos, organizações da sociedade civil e especialistas, liderada mundialmente pelo Instituto Aspen (EUA).  Articulada pela United Way Brasil (UWB), a iniciativa, que chegou na cidade de São Paulo em 2020, tem o compromisso de incluir 100 mil jovens-potência em postos dignos de trabalho ou de empreendedorismo até 2030. Para isso, o movimento tem por objetivo contribuir para promover a inclusão produtiva de jovens na cidade de São Paulo, a partir de mudanças sistêmicas e criação de oportunidades.