Invasão de privacidade faz sucesso nos filmes, mas traz riscos na vida real

Histórias retratadas em filmes e séries conquistam o público e promovem o debate sobre a importância da segurança dos dados 

O filme é antigo. Data de 1997. Mas, em tempos de biometria facial ganhando cada vez mais destaque, “A Outra Face” tem lá seus toques de realidade.

Na história, um agente do FBI (John Travolta) troca de rosto com um criminoso (Nicolas Cage) para
localizar uma bomba e evitar uma catástrofe.

Quer algo um pouco mais recente? “Blindspot”, de 2015 (5 temporadas).

Na série, uma mulher misteriosa surge, em Nova York, sem memória e sem a menor informação sobre sua identidade.

Tatuagens espalhadas no corpo dela ajudam a solucionar crimes e dão pistas sobre quem ela realmente é.Golpes, roubo de dados e invasão de privacidade são fatos que também ocorrem na vida real.

Tanto que fica até difícil entender quando a arte imita a vida ou quando ocorre o contrário. Então, o que os filmes nos revelam? Que sempre há alguém de olho em informações consideradas sensíveis e que, muitas vezes, dá um baita trabalho provar que você é você mesmo. 

Portanto, sendo ou não fã dessas histórias nas telas, o importante é estar alerta no dia a dia e entender que privacidade e dados não são apenas duas palavras. Elas representam o direito à reserva de informações pessoais e da própria vida.

Aliás, esse é um conceito formulado no início do século passado por um jurista norte-americano chamado Louis Brandeis, mas bastante atual para reflexões no Dia Internacional de Proteção de Dados, comemorado em 28 de janeiro. 

Aprenda com os filmes 
Mas como adotar cuidados se a curiosidade, muitas vezes, fala mais alto?

Quem nunca trocou um dado para acessar uma fofoquinha ou para dar uma espiadinha em um reality? Afinal, O “Show de Truman”, “Prenda-me se for capaz” e “Golpista do Tinder” não fizeram sucesso à toa. Privacidade ou a falta dela é um tema que garante sucesso nas bilheterias. 

“A atenção causada por filmes sobre o tema tem a ver com a curiosidade, com a vontade que as pessoas têm de saber sobre o que há de íntimo na vida dos outros”, diz André Azenha, crítico de cinema e produtor cultural.

A professora do curso de Cinema da Universidade São Judas, Raquel Pelegrini, também concorda. “Acho que essa questão da curiosidade humana é uma característica de todo mundo. O ser humano, muitas vezes até para fugir dos seus próprios problemas e inquietações, vai querer saber da vida do outro, entender um pouco o que acontece na casa do vizinho”. 

Se você é adepto a acompanhar a vida alheia nas telas, tudo bem. Mas, na sua vida real, aprenda a cuidar dos seus dados.

Afinal, os golpistas estão de olho em pequenos deslizes para se apoderar de informações que levem a contas bancárias, cartões de crédito ou outros tipos de fraudes. 

“Mesmo que você esteja concedendo informações em um ambiente offline, como em uma loja física (já passou seu CPF para ter descontos na farmácia?), saiba que, de qualquer forma, elas serão inseridas, tratadas e guardadas em algum sistema computadorizado.

Logo, estarão, igualmente, suscetíveis a ataques cibernéticos e usos indevidos — sem falar do risco de serem compartilhadas ou vendidas intencionalmente a terceiros sem a sua prévia autorização”, destaca o professor dos cursos da área de tecnologia do Centro Universitário FMU, Cláudio Boghi. 

Portanto, não compartilhe informações essenciais sem saber como elas serão tratadas. Além disso, não forneça seus dados para qualquer um e atenção ao que deixa exposto em suas redes sociais para não virar enredo de histórias nada agradáveis. 

Quer mais dicas de filmes e séries? 
— “Invasão de Privacidade” (1993): com a Sharon Stone, é sobre um sujeito que era dono de um prédio e tinha acesso a todos os apartamentos através de câmeras escondidas, bem antes do surgimento do BBB 
— “Privacidade Hackeada” (2019): documentário do Netflix sobre uso ilegal de dados de usuários do Facebook na eleição dos Estados Unidos de 2016 
— “Quebra de Sigilo” (1992): hackers são chantageados pelo governo dos EUA para recuperar uma caixa preta que envolve cibersegurança 
— “Mr. Robot” (2015 — 4 temporadas): premiada série com o ator Rami Malek (que fez Freddie Mercury no cinema e ganhou o Oscar pelo papel) interpretando um hacker 
— Elementary (2012 — 7 temporadas): série acompanha um Sherlock Holmes contemporâneo, que tem a ajuda de um grupo chamado Everyone, que seria, no caso, uma versão dos Anonymous. Sempre que tem dificuldade em achar determinada informação, esse grupo ajuda o protagonista 
— Black Mirror (2011 — 5 temporadas): série de ficção científica que chega a assustar, mas não está tão longe do que podemos presenciar num futuro próximo.

Fonte: crítico de cinema e produtor cultural, André Azenha.