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Tudo o que você precisa saber sobre a Inteligência Artificial Generativa

Tudo o que você precisa saber sobre a Inteligência Artificial Generativa

* Por Karin Klempp.

1. Como você descreveria de forma simples o conceito de IA generativa para alguém que não está familiarizado com o campo?

Inteligência artificial generativa é aquela que gera conteúdo. Ela recebe input (i.e. dados) e com base no cruzamento e em sua própria forma de tratamento gera algo novo.

2. Quais são os desafios mais significativos ao lidar com modelos generativos, especialmente em termos de ética e viés?

Os desafios são a transparência, equidade, privacidade, segurança e responsabilidade. Que também são os princípios basilares do uso e aplicação de toda IA. É preciso que minimamente consigamos explicar como a inteligência artificial chega a um resultado, para termos segurança quanto à ética e aos viéses que podem estar presentes.

Como a IA trabalha com dados, o componente de propriedade intelectual (de quem são os dados, que entram, que são tratados e que saem? Pertencem a alguém/alguma empresa? ) e de proteção de dados pessoais (LGPD, pois os dados que são imputados no sistema ou os dados que saem do sistema podem ser dados que se referem a uma pessoa física (dados pessoais). Neste sentido, a LGPD se aplica.

3. Como a IA generativa está sendo aplicada em setores específicos, como saúde, finanças ou entretenimento, e quais são os benefícios observados até agora?

Na área de saúde, a IA é aplicada para prever resultados, diagnósticos, fazer triagem de forma mais rápida. Por exemplo. Na área de finanças. IA generativa é usada para agilizar aprovações de crédito, calcular e analisar dados financeiros e de desenvolvimento de mercado (a IA tem capacidade de analisar grandes quantidades de dados em poucos minutos), na área de entretenimento ela pode ser usada para prever fraudes na compra de ingressos, por exemplo, ou até mesmo para criar conteúdos originais.

Os sistemas de IA têm capacidade de analisar grandes quantidades de dados e trata-los, de forma inimaginável pelo cérebro humano. Isto pode ser colocado a serviço da humanidade, ajudando a solucionar questões em tempo mais rápido, a fazer tarefas repetitivas, a testar novas alternativas para uma determinada tarefa.

4. Quais avanços recentes na pesquisa de IA generativa você considera mais promissores ou emocionantes?

Todos. A possibilidade de acelerar tarefas importantes que antes demoravam dias é espetacular. Um professor consegue revisar a programação de código fonte do seu aluno em 5 min. Antes demorava 2 horas. O importante é usá-la com ética e controle.

5. Quais são as preocupações éticas em torno do uso de IA generativa, especialmente quando se trata de criar conteúdo, como texto, imagens e vídeos?

Em relação a texto, imagem e vídeos uma das maiores preocupações é certamente a propriedade intelectual. Porque enormes bases de dados que são imputados no sistema de IA. E o sistema não crio do zero, ela usa os dados como base. Então, aquele o qual pertence a propriedade intelectual dos dados iniciais – seja um livro, uma patente, um desenho, uma imagem (protegido por direito autoral) contribuiu para o resultado alcançado pela IA e deve ser reconhecido e remunerado. Mas como fazer isto? Pode ser que o resultado esteja tão longe, que não se identifica mais aquele input inicial. Daí a necessidade de controle, transparência.

Outro ponto importante é a ética e a possibilidade de a IA criar obras com vieses. É importante identificar estes vieses no resultado, refazer, imputando dados diferentes e dando instruções diferentes.       

.6. Como você vê o futuro da IA generativa? Quais são as tendências emergentes que podem moldar o campo nos próximos anos?

Simplesmente tudo, todos os campos da sociedade podem ficar mais eficientes e rápidos. A questão é administrar isto para que fique da forma e nos parâmetros que desejamos. Por exemplo, o quanto é importante sermos atendidos por humanos quando acessamos um serviço de atendimento ao consumidor? Quando acessamos o setor de emergências do pronto atendimento de um hospital? Na hora de comprar minha comida? São perguntas que a sociedade deve responder.

7. Como os desafios computacionais, como a escalabilidade e a eficiência de treinamento, estão sendo enfrentados no desenvolvimento de modelos generativos mais avançados?

O sandbox regulatório é uma alternativa de regulação jurídica. Dentre de determinados parâmetros (caixa de areia ou sandbox) há liberdade para experimentar e errar. Muitos argumentam que sem isto não haveria incentivo para inovar pois o risco regulatório seria muito grande.

8. Em que medida a colaboração entre humanos e sistemas generativos é importante, especialmente em setores criativos como design e arte?

A Colaboração é importante para direcionar onde queremos chegar e quais tipos de criatividade pretendemos estimular.

9. Podemos esperar ver uma maior integração de IA generativa em ferramentas e softwares acessíveis para o público em geral? Como isso pode impactar as indústrias criativas?

Sim. Vejo diferenças em softwares acessíveis para o publico em geral e indústrias criativas. Os softwares acessíveis ao público em geral implicam maior rapidez e possibilidade de gerar conhecimento e de se informar. O consumidor faz isto diretamente. Já as indústrias criativas podem cada vez mais não depender de artistas, comediantes, atores. A questão é que a IA generativa não é criativa. Ela identifica tendências, cria a partir do que existe e do que se alimenta. O artista, o comediante, o ator é criatividade pura. Insubstituível.

10. Quais são as implicações éticas e legais ao usar modelos generativos para criar conteúdo que pode ser confundido com criações humanas?

As implicações são as já respondidas nas perguntas anteriores. Questões de propriedade intelectual. Questão de privacidade e proteção de dados pessoais.

11. Como a IA generativa pode ser usada para personalização de experiências, como em recomendações de produtos ou conteúdo personalizado, sem violar a privacidade do usuário?

A privacidade ou a proteção de dados pessoal é algo muito pessoal e cultura. Diferentes países possuem diferentes visões sobre o que é privacidade, o que é invasão de privacidade. Por exemplo, no Brasil os consumidores tendem a colocar fotos suas e da família no instagram, no facebook. Na Europa, é comum ver-se perfis de instagram somente com fotos de locais, sem pessoas.

À medida em que a pessoa aceita e pede que seja personalizado, não há violação de privacidade. Tem de ser uma escolha do indivíduo. A questão é que a personalização traz consigo também a limitação de conteúdo. De repente, aquele indivíduo só recebe recomendações de filmes de romance, com finais felizes, comédia, notícias sobre entretenimento, nada de política, de guerra, nada sobre alimentação saudável. A longo prazo pode-se criar cidadãos que não tem acesso a todo o conteúdo cultural de uma sociedade, não tem capacidade de acompanhar a evolução da sociedade e não cria opiniões sobre questões sociais.

12. Como os modelos generativos estão sendo aplicados na simulação e geração de ambientes realistas, como em jogos, treinamento de veículos autônomos ou simulações industriais?

O metaverso é o maior exemplo disto. É possível simular-se uma experiência no espaço, em Marte, dentro de aviões seja em sua construção ao para seu voo, fazer cirurgias a mais de 3000 km de distância entre medico e paciente.

13. Como a comunidade de pesquisa em IA generativa está abordando a questão da segurança, especialmente considerando o potencial uso malicioso da tecnologia para criar deepfakes ou informações falsas?

A comunidade de pesquisa acompanha os avanços legislativos, integra as comissões que são criadas para a discussão da regulamentação. Conforme exposto acima, há uma proposta de sandbox regulatório, uma moldura dentro da qual tudo é possível (respeitados parâmetros colocados pela lei) e dentro da qual o desenvolvimento pode ocorrer mais livremente, sem receios de responsabilidade em relação a erros. A maioria dos cientistas argumenta que isto é necessário para estimular a inovação. Mas há uma moldura, pois para além, dela a sociedade não está disposta a ir – comprometendo ética, integridade dos indivíduos, segurança alimentar, física, e por aí vai.

* Karin Klempp, advogada sócia do Cascione.
Especialista em Propriedade Intelectual, Proteção de Dados e IA Generativa.