TecnologiaNotícias

Imortalidade através da IA: uma nova forma de conexão com entes queridos falecidos

Imortalidade através da IA: uma nova forma de conexão com entes queridos falecidos

Perder alguém próximo pode ser um trauma difícil de superar. Mas e se pudéssemos ter a oportunidade de ver e ouvir novamente aqueles que partiram? Graças aos avanços da inteligência artificial, isso agora é possível. Empresas americanas como StoryFile, HereAfter.AI e You, Only Virtual estão utilizando essa tecnologia para trazer os falecidos de volta à “vida”.

Como isso funciona? Trata-se de criar uma réplica digital da pessoa falecida, conhecida como “cópia digital” ou “avatar”. Essas ferramentas, também chamadas de “tecnologia do luto”, são capazes de recriar com incrível detalhe os traços e características da pessoa original, possibilitando conversas, ligações e até mesmo videochamadas com esses avatares digitais.

O impacto é impressionante. Os avatares são extremamente realistas, assemelhando-se perfeitamente às versões originais das pessoas falecidas. O objetivo dessas empresas é oferecer, de certa forma, a oportunidade de imortalidade, fornecendo um consolo para aqueles que estão passando por um processo de luto.

As empresas especializadas em inteligência artificial utilizam dados pessoais da pessoa falecida para criar chatbots e avatares virtuais interativos. Esses avatares são capazes de simular conversas com base nas informações fornecidas, oferecendo uma experiência de interação única.

Um exemplo tocante é o caso de uma mãe na Coreia do Sul, que utilizou essa tecnologia para se despedir de sua filha que faleceu precocemente. Um avatar da menina, com sete anos de idade, foi criado, auxiliando a mãe no processo de luto e proporcionando uma sensação de conexão emocional.

A empresa HereAfter.AI, fundada pelo escritor James Vlahos, surgiu com o objetivo de lidar com o luto através da tecnologia. Vlahos iniciou o projeto após a morte de seu pai, entrevistando-o durante seus últimos meses de vida para preservar suas memórias e criar um avatar interativo chamado Dadbot.

O interesse pelo projeto de Vlahos cresceu rapidamente, com muitas pessoas solicitando a criação de avatares semelhantes para seus entes queridos falecidos. A diferença entre simples gravações de áudio ou vídeos antigos e essa nova tecnologia está na possibilidade de interação e diálogo contínuo com os avatares, transformando as memórias em conversas vivas.

Atualmente, os avatares são alimentados por dados prévios, mas os engenheiros estão trabalhando na próxima etapa: a inteligência artificial generativa, capaz de gerar novos argumentos e respostas, como se a pessoa falecida ainda estivesse pensando e interagindo.

Além de trazer conforto para aqueles que estão de luto, a tecnologia dos avatares também pode ser uma forma de preservar a memória de personalidades notáveis, como os sobreviventes do Holocausto. A empresa StoryFile, por exemplo, permite que eles compartilhem suas experiências com as gerações futuras.

No entanto, existem preocupações sobre os riscos e o uso indevido dessa tecnologia. Jessica Heesen, pesquisadora de ética, lei e segurança da sobrevivência digital na Universidade de Tübingen, na Alemanha, adverte que, devido à quantidade de informações disponíveis online sobre as pessoas, é possível criar avatares de entes queridos falecidos sem seu consentimento. Esses avatares poderiam ser utilizados para propósitos inadequados, como conteúdo adulto ou disseminação de informações falsas.

Regulamentar essas questões é um desafio complexo. Sam Altman, diretor executivo do ChatGPT Open AI, falou pessoalmente ao Senado dos EUA em maio de 2023, defendendo a importância da regulamentação rigorosa da inteligência artificial. Ele argumentou que a intervenção estatal é fundamental para mitigar os riscos apresentados por sistemas de IA cada vez mais poderosos.

Apesar das preocupações, muitos veem a inteligência artificial como uma forma de manter uma conexão com entes queridos falecidos. Com um simples dispositivo eletrônico, é possível estar próximo daqueles que partiram, graças à capacidade de interação proporcionada pelos avatares.

Jessica Heesen, otimista em relação a essa tecnologia, compara a possibilidade de conversar com um avatar ao ato de ir ao cemitério e falar com o falecido diante de uma lápide. Ela acredita que, no futuro, será comum se comunicar com avatares, como uma forma de manter viva a memória e a conexão emocional com aqueles que já se foram.

A imortalidade por meio da inteligência artificial está abrindo novas possibilidades e desafios. Embora ofereça uma forma de consolo e preservação da memória, é necessário um cuidado ético e regulamentações adequadas para garantir que essa tecnologia seja utilizada de maneira responsável e respeitosa. O equilíbrio entre a emoção humana e o avanço tecnológico é um desafio constante, que exige uma reflexão cuidadosa sobre os limites e implicações dessa nova era da imortalidade digital.